A criação de resorts integrados, onde fossem permitidos jogos e apostas, foi um assunto que gerou debates entre os ministros, na reunião da equipe com o presidente Jair Bolsonaro, no dia 22 de abril. Quando o titular da pasta de Turismo, o ministro Marcelo Álvaro Antonio sugeriu regulamentar a prática para tentar aumentar o número de visitantes no país — o setor foi um dos mais prejudicados pela epidemia de Covid-19 —, enfrentou a resistência da ministra da Mulher, da Família e dos Direitos Humanos, Damares Alves, que disse que a ideia era um “pacto com o diabo”. O ministro da Economia, Paulo Guedes, acalmou a ministra, explicando que se trataria de “um centro de negócios. É só maior de idade”, referindo-se ao local e frequentadores.
Quando começou sua defesa dos resorts integrados, Marcelo Álvaro Antonio logo viu que o assunto não estava agradando Damares:
— Damares tá olhando de cara feia para mim — comentou.
Na ocasião, o ministro disse saber que o assunto era polêmico, mas defendeu um plano de atração de investimentos:
— Sei que é urna pauta muito sensível também a ela, que é a questão, presidente, é … porque o ministério do Turismo agora tem que ter um planejamento, um plano de atração de investimentos, que é o que gera emprego, renda, é o que ajuda, obviamente, a economia do Brasil. E pra isso presidente, eu acredito que o momento propício nesse planejamento da retomada, discutir os resorts integrados. Não é legalização de jogos, não é bingo, não é caça níquel, não é … são resorts integrados. Obviamente, presidente, uma pauta que precisa de ser construída a – Damares tá olhando com cara feia pra mim – uma pauta que precisa de ser construída com as bancadas da Câmara, tanto a evangélica, quanto a católica, mostrando ou desmistificando vários mitos que giram em torno disso.
Após pedir o apoio de Paulo Guedes, o ministro do Turismo foi interrompido por Damares, que exclamou:
— Pacto com o Diabo!
Surpreendido, Marcelo disse, rindo:
— Não. Não é bem isso não, né? Vou ter que começar a desmistificar pra Damares aqui. Tô … tô vendo isso.
Na sequência, o chefe da Casa Civil, general Walter Braga Netto encaminhou a proposta para discussão em outra reunião, mas o ministro da Economia, Paulo Guedes, voltou ao tema, pouco depois. Dirigindo-se a Damares, ele afirmou“deixa cada um se foder”, referindo-se a quem frequentar os resorts integrados.
— É um centro de negócios. É só maior de idade. O cara entra, deixa grana lá que ele ganhou anteontem, — ele deixa aquilo lá, bebe, sai feliz da vida. Aquilo ali não… atrapalha ninguém. Aquilo não atrapalha ninguém. Deixa cada um se foder. Ô Damares. Damares. Damares. Deixa cada um … O presidente, o presidente fala em liberdade. Deixa cada um se foder do jeito que quiser. Principalmente se o cara é maior, vacinado e bilionário. Deixa o cara se foder, pô! Não tem… lá não entra nenhum, lá não entra nenhum brasileirinho. Não entra nenhum brasileirinho desprotegido. Entendeu?”
Depois da fala de Guedes, Damares diz temer que os espaços sejam usados para a lavagem de dinheiro:
— Se a CGU (Controladoria-Geral da União) concordar. Se a CGU tiver como controlar a entrada e a saída do dinheiro. Se não tiver como lavar dinheiro sujo lá, diz a ministra.
Fonte: O Globo